segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Consumismo: como sair dessa armadilha?


Sistema econômico fazendo água por todos os lados, colocados estamos numa grande armadilha: ou consumimos, e consumimos cada vez mais, ou o sistema desaba em cima de todos.

Leia abaixo mais um lúcido artigo de Leonardo Boff, publicado no sítio da Carta Maior, sobre esse monstro e sua desejável arma de destruição global: o consumo.

Governados por cegos e irresponsáveis
Somos governados por cegos e irresponsáveis, incapazes de dar-se conta das consequências do sistema econômico-político-cultural que defendem. Criou-se uma cultura do consumismo propalada por toda a mídia. Há que consumir o último tipo de celular, de tênis, de computador. 66% do PIB norte-americano não vêm da produção, mas do consumo generalizado.
Leonardo Boff

Afunilando as muitas análises feitas acerca do complexo de crises que nos assolam, chegamos a algo que nos parece central e que cabe refletir seriamente. As sociedades, a globalização, o processo produtivo, o sistema econômico-financeiro, os sonhos predominantes e o objeto explícito do desejo das grandes maiorias é: consumir e consumir sem limites.

Criou-se uma cultura do consumismo propalada por toda a mídia. Há que consumir o último tipo de celular, de tênis, de computador. 66% do PIB norte-americano não vêm da produção, mas do consumo generalizado. 

As autoridades inglesas se surpreenderam ao constatar que entre os milhares que faziam turbulências nas várias cidades não estavam apenas os habituais estrangeiros em conflito entre si, mas muitos universitários, ingleses desempregados, professores e até recrutas.

Era gente enfurecida porque não tinha acesso ao tão propalado consumo. Não questionavam o paradigma do consumo mas as formas de exclusão dele. 

No Reino Unido, depois de M.Thatcher e nos USA, depois de R. Reagan, como em geral no mundo, grassa grande desigualdade social. Naquele país, as receitas dos mais ricos cresceram nos últimos anos 273 vezes mais do que as dos pobres, nos informa a Carta Maior de 12/08/2011. 

Então não é de se admirar a decepção dos frustrados em face de um “software social” que lhes nega o acesso ao consumo e face aos cortes do orçamento social, na ordem de 70% que os penaliza pesadamente. 70% dos centros de lazer para jovens foram simplesmente fechados. 

O alarmante é que nem primeiro ministro David Cameron nem os membros da Câmara dos Comuns se deram ao trabalho de perguntar pelo por que dos saques nas várias cidades. Responderam com o pior meio: mais violência institucional. O conservador Cameron disse com todas as letras: “vamos prender os suspeitos e publicar seus rostos nos meios de comunicação sem nos importarmos com as fictícias preocupações com os direitos humanos”.

Eis uma solução do impiedoso capitalismo neoliberal: se a ordem que é desigual e injusta, o exige, se anula a democracia e se passa por cima dos direitos humanos. Logo no país onde nasceram as primeiras declarações dos direitos dos cidadãos.

Se bem reparamos, estamos enredados num círculo vicioso que poderá nos destruir: precisamos produzir para permitir o tal consumo. Sem consumo as empresas vão à falência. Para produzir, elas precisam dos recursos da natureza. Estes estão cada vez mas escassos e já delapidamos a Terra em 30% a mais do que ela pode repor.

Se pararmos de extrair, produzir, vender e consumir não há crescimento econômico. Sem crescimento anual os países entram em recessão, gerando altas taxas de desemprego. Com o desemprego, irrompem o caos social explosivo, depredações e todo tipo de conflitos.

Como sair desta armadilha que nos preparamos a nós mesmos?

O contrário do consumo não é o não consumo, mas um novo “software social” na feliz expressão do cientista político Luiz Gonzaga de Souza Lima. Quer dizer, urge um novo acordo entre consumo solidário e frugal, acessível a todos e os limites intransponíveis da natureza. Como fazer?

Várias são as sugestões: um “modo sustentável de vida” da Carta da Terra, o “bem viver” das culturas andinas, fundada no equilíbrio homem/Terra, economia solidária, bio-sócio-economia, “capitalismo natural” (expressão infeliz) que tenta integrar os ciclos biológicos na vida econômica e social e outras.

Mas não é sobre isso que falam quando os chefes dos Estados opulentos se reúnem. Lá se trata de salvar o sistema que veem dando água por todos os lados. Sabem que a natureza não está mais podendo pagar o alto preço que o modelo consumista cobra. Já está a ponto de pôr em risco a sobrevivência da vida e o futuro das próximas gerações.

Somos governados por cegos e irresponsáveis, incapazes de dar-se conta das consequências do sistema econômico-político-cultural que defendem.

É imperativo um novo rumo global, caso quisermos garantir nossa vida e a dos demais seres vivos. A civilização técnico-científica que nos permitiu níveis exacerbados de consumo pode pôr fim a si mesma, destruir a vida e degradar a Terra. Seguramente não é para isso que chegamos até a este ponto no processo de evolução.

Urge coragem para mudanças radicais, se ainda alimentamos um pouco de amor a nós mesmos.

Leonardo Boff é teólogo e escritor

3 comentários:

virginia disse...

Precisamos mudar os nossos hábitos, e ter consciência que necessitamos do meio ambiente para continuarmos sobrevivendo , que se continuarmos jogando lixo em qualquer lugar, desperdiçando água,energia elétrica,queimando as florestas e consumindo de forma exagerada ,talvez daqui a alguns anos não sobrará nenhum sobrevivente nem mesmo pra narrar a história.Vamos preservar para sobreviver!!! Virgínia,Codó.

ivan disse...

O consumo desenfreado é um dos objetivos ocultos do CAPITAlISMO que o povo não se dá conta. infelizmente o próprio povo financia tais atos.
Somos bombardiado a todo instante e de todos os lados com propagandas e anuncios que nos induzem a comprar, comprar e comprar sem nos preocupar com as consequencias ao meio ambiente.
Ivan, Belágua

José Atailson P. dos Santos disse...

Comprar apenas o necessários. Mas como nos livrar das necessidades criadas em nós a todo instante pelas apelativas propagandas que invadem as nossas casas pelos mais diferenciados meios de comunicação ? E o que é pior, ingerimos tudo sem mastigar, ou seja, as propagandas fazem as nossas cabeças, cria consciência exageradamente consumista. Discutir essas questões é o caminho para resistir essa força do mal capitalista: o consumo.Núclo da Rede de Defesa da Cidadania de Pte. Vargas.