terça-feira, 8 de novembro de 2011

País da impunidade: mate,pague fiança, saia livre e sorrindo!

Autor: Frei Betto 

Nas últimas semanas, a mídia registrou inúmeros casos de acidentes de trânsito com mortes, provocadas por motoristas embriagados. Foram presos e, graças à fiança, em seguida soltos. Detalhe: sem que suas carteiras de motoristas tenham sido apreendidas. Alguns, aliás, nem possuíam habilitação para dirigir.

O Brasil é o país da impunidade. As leis são feitas apenas para os pobres – que não têm dinheiro para pagar advogados e fianças. Da classe média para cima, nenhum assassino do volante se encontra preso. Nem condenado em última instância. São 57 mortes por dia, no Brasil, associadas ao alcoolismo. Vale, pois, a pergunta: quem é a próxima vítima?

O Brasil é também o país do paradoxo. Há intensa campanha contra o tabagismo. Daqui a pouco haverão de proibir, como nos EUA, até fumar em local público. E, não demora, dentro de casa, sob pretexto de que incomoda os vizinhos...

A publicidade de cigarros desapareceu da mídia. As embalagens de tabaco trazem fotos horripilantes dos efeitos deletérios do produto. Ora, o alcoolismo mata mais que o tabagismo. É o terceiro fator de morte no mundo, precedido pelo câncer e doenças cardíacas. Por que não se proíbe publicidade de bebidas?

Apenas na cidade de São Paulo, em 2010 ocorreram 1.357 mortes no trânsito e 7.007 atropelamentos. O número de motoristas embriagados, parados em blitzen da PM, subiu 38% de janeiro a setembro deste ano, comparado a todo o ano de 2010. Entre jovens de 13 a 19 anos envolvidos em acidentes de trânsito, 45% ingeriram bebida alcoólica.

Os dados são alarmantes: 68,7% dos brasileiros ingerem álcool. Nos hospitais psiquiátricos, 90% das internações são de dependentes de álcool. Os motoristas bêbados são responsáveis por 65% dos acidentes de trânsito. E o Ministério da Saúde gasta, por ano, via SUS, mais de R$ 1 bilhão em tratamentos e internações causados por álcool.

Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas e Psicotrópicos, vinculado à Faculdade Paulista de Medicina, entre estudantes do primeiro e segundo graus da rede estadual de São Paulo, 70,4% se iniciam na bebida entre 10 e 12 anos. Nos EUA o índice, para a mesma faixa etária, é de 50,2%.
Volta a pergunta que não quer calar, e o governo, o Conar e as agências de publicidade não querem responder: por que não se aplicam as leis de proibição do tabagismo ao álcool?

A resposta existe, o que não existe é a coragem de fechar a torneira do mar de dinheiro que as empresas de bebidas alcoólicas despejam na publicidade. E o mais grave: associa-se álcool a celebridades, como jogadores de futebol e cantores, que fascinam os mais jovens e atraem legião de fãs.

Uma grande emissora de TV anuncia uma série de programas antitabagistas. Quando veremos algo semelhante em relação ao consumo de álcool?
Nunca tive notícia de acidentes de trânsito causados pelo vício de fumar, agressão doméstica decorrente da aspiração da fumaça de tabaco, internação psiquiátrica por dependência de cigarro. Todos nós, porém, conhecemos casos relacionados ao alcoolismo. E haja publicidade de cerveja no horário nobre! Para os jovens, a cerveja é a porta de entrada no consumo de bebidas etílicas.
 
O cigarro prejudica quem fuma e quem está próximo ao fumante. O álcool, misturado com volante, gera acidentes que envolvem passageiros do veículo causador do acidente, passageiros dos veículos atingidos por ele e pedestres, além de danos à via pública.

Álcool em excesso transtorna os reflexos. Associado ao volante, é perigo na certa. Mas não se preocupe. Você está no Brasil. Confia que jamais terá o azar de ser parado por uma blitz da lei seca. Se acontecer, oferecerá uma grana aos fiscais, na esperança de que sejam corruptos. Caso não sejam, se recusará a pôr a boca no bafômetro. Se for detido, convocará a família e o advogado, pagará fiança e logo estará na rua. Com a carteira de habilitação no bolso. Pronto para se dependurar no volante e repetir a façanha.

Viva o Brasil e a impunidade! E azar das vítimas por viverem num país como o nosso!

Obs: Na noite de sábado, dia 05 de novembro, na avenida Litorênea, Rodrigo Araújo Lima, 22 anos de idade, com sinais visíveis de embriaguez, dirigindo um Corolla, atropelou três pessoas que estavam no canteiro central da avenida. Dos três, uma mulher, de 42 anos, e um adolescente, de 13 anos, faleceram e o terceiro, marido e pai, teve escoriações pelo corpo todo. Preso e levado ao plantão central da REFFSA, foi liberado, após o pagamento da fiança de R$ 6.000,00 (seis mil reais). Mais notícias, clique aqui.

3 comentários:

José Atailson, José Ribamar Garcia... disse...

Li este texto três vezes, duas no Adital e uma, no Diário de luta. É sempre a mesma história: quem tem dinheiro paga adivogado e viança e vai embora orgulhoso ainda. Quem foi acidentado ou morreu por decorrencia do acidente, perdeu a vida. E a justiça? Ah! essa funciona, infelizmente, para quem tem... e não para quem é injustiçado. Se a vítima é rica, os Meios de Comunicação de Massa forçam a justiça agir, se não, fica por isso mesmo. A impunidade é quem manda.a população, porém, está vigilante. Náo aceitemos injustiças calados. Reagimos. Reaja você!RFC - MA. - Núcleo de Pte. Vargas

Anônimo disse...

É incrível como os ricos são poderosos, matam e não são presos, para eles: A vida de um pobre custa o preço de uma fiança e a vida de um rico custa a prisão e o cumprimento de toda a pena.
Ivan Sousa, Belágua-MA

virginia disse...

A nossa tristeza é que nosso povo ver isso como se fosse normal, e muitos ainda usam o nome de Deus para justificar essas irresponsabilidades, como se Deus fosse também um pai injusto.A impunidade acontece por nossa sociedade ainda deixa as coisas acontecer e ainda não está organizada. Até quando isso vai continuar acontecendo, até quando a impunidade continuará existindo?