sábado, 10 de setembro de 2011

Parte III: resistir e avançar de cabeça erguida!

Com o argumento de que o regime multisseriado é um método “inovador”, utilizado inclusive em países desenvolvidos como a França, essa praga se espalhou pelos municípios maranhenses.

Defendido pela maioria dos prefeitos e secretários de educação, incluindo Arnold Borges e Cristiane Aragão, respectivamente prefeito e secretária de Pedro do Rosário (foto 1), com o olhar como sempre complacente do Ministério Público, não por coincidência este suposto método “inovador”, vindo dos países mais ricos do mundo, foi implantado nas regiões mais pobres do país, principalmente na zona rural, a exemplo do assentamento Nova Jerusalém (foto 2), a contragosto e insatisfação de alunos, pais e da própria comunidade.

Na verdade esse “sistema” apareceu em boa hora, um verdadeiro achado para prefeitos e secretários de educação, pois assim podem “economizar” dinheiro, tanto na construção de escolas, quanto no pagamento de professores e outros servidores públicos.

Resultado: baixo nível de aprendizagem do estudante, que certamente depois será responsabilizado pelo seu fracasso, desistência ou revolta.

As escolas multisseriadas são as unidades de ensino mais pobres do país”, admite a coordenação do programa Escola Ativa, projeto do Ministério da Educação que apoiou essa infeliz ideia, sob a promessa de equipar estas escolas adequadamente.

Se a situação do ensino é precária e o prédio escolar é uma violência no assentamento Nova Jesuralém/Pedro do Rosário, o programa de alimentação escolar é um acinte, uma ofensa, um tapa na cara de crianças, adolescentes, jovens e seus pais.

Merenda só vem para cá um pouquinho, dá no máximo para oito, dez dias, depois não vem mais”, afirma Valdemir, coordenador do assentamento.

Muito embora os alunos sejam de assentamento, com enorme produção de gêneros da agricultura familiar, os alimentos entregues são partes de uma lista comum no Maranhão, tanto faz ser assentamento, comunidade quilombola ou indígena: sardinha, arroz pré-cozido, bolacha, suco de pacote e de oito em oito dias, vem leite.

Carne de gado veio uma vez, mas as crianças recusaram porque a carne estava podre”, observa dona Francisca.

Outro fato conflita com os dados do FNDE. Segundo os assentados, os itens acima listados só aparecem no verão, no inverno nem dão a cara, não tem nem para fazer “remédio”.
                                        
No estilo Guimarães Rosa “quem desconfia, fica sábio”, Valdemir avalia assim a situação, com um sorriso de experiência nesses “desdobros governamentais”, o que deixa transparecer que tem certeza do contrário: “parece que o MEC não repassa o dinheiro”.

Nas informações do governo federal, no entanto, estão em dia os repasses do FUNDEB, da Alimentação Escolar e do Transporte Escolar.

Escola de pau-a-pique, professores contratados, regime multisseriado, alimentação escolar insuficiente e inadequada e transporte escolar inexistente, tudo leva a crer que, como diz Guimarães Rosa pela boca de Riobaldo: “ser ruim, sempre, carece de perversos exercícios de experiência”.

Para os assentados, no entanto, está bem claro: isso tudo faz parte do jogo dos opressores, que querem inviabilizar de qualquer jeito essa experiência de luta, dobrar o ânimo e matar a esperança, para que os oprimidos compreendam que não têm direito, mas favor; que esmola dada não se pode reclamar.

Para José Wilson, ao mostrar a realidade do assentamento, sentencia, com a voz firme de quem foi forjado na lida e na luta: “Isso tem que mudar, não pode ficar desse jeito. Então o jeito é denunciar, reclamar, reivindicar. Entramos aqui para garantir o nosso direito, com a cabeça erguida e com a cabeça erguida vamos continuar lutando”.

Essa é, afinal, a lida de muitos maranhenses: às vezes não adianta fechar só a porta, nem contar sempre com a sorte, pois a história mostra que só a luta determina o curso do destino.

Um comentário:

José Atailson, Ribamar lisboa, Josinaldo,Raimunda Figueiredo disse...

Companheiros, a realidade escolar deste assentamento é semelhante a maioria das salas de aula do município de Pte Vargas: casebres barracões de chão batido, poucas carteiras, um quadro, alunos de várias séries numa só turma e professores contratados, apenas isso e mais nada.Quem mudará de vida com esta educação ? Quanto a nós, idigninação ética e lutas no campo e na cidade, sempre.Núcle da Rede de Fefesa da Cidadania de Pte. Vargas.