sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Parte II: um governo se conhece pelas suas "obras"!



Nessa luta do dia a dia, o assentado tem de dar conta do trabalho, da roça, da defesa e da organização da comunidade, sem a qual não seria possível a resistência, além de reivindicar e fiscalizar as “obras” do governo, sempre parte de um plano tático.

Apesar de estarem no mesmo mundo das coisas, não se pode indicar, ao mesmo tempo, o termo "obra" para identificar o grande trabalho de Guimarães Rosa e o que o governo faz, sob pena de desmerecer o primeiro.

Exemplo disso é o prédio construído para funcionar a unidade escolar do assentamento Nova Jerusalém (foto 1), cujo nome homenageia Paulo Freire, o maior educador de todos os tempos.

Alguns prefeitos e secretários de educação chegam até a chorar quando falam o nome de Paulo Freire e não entendem a reclamação das crianças e de seus pais quando reivindicam uma escola de qualidade.

Para eles, se Paulo Freire foi educado no quintal de sua casa, à sombra das mangueiras, tendo o chão como quadro-negro e gravetos como giz, por que as crianças não podem ser educadas do mesmo jeito do mestre?

Na tentativa de convencer os assentados, cuja reivindicação era uma escola de verdade, a prefeitura municipal de Pedro do Rosário, território no qual está localizado o assentamento Nova Jerusalém, resolveu construir uma escola, verdadeira “obra”.

Assim, a mangueira dos tempos de Paulo Freire foi substituída por uma casa de pau-a-pique, paredes de barro e chão batido, coberta de telha, medindo 4 metros de frente, por 6m de fundo.

A prefeitura até tentou, mas não encontrou ninguém que se dispusesse no assentamento a construir essa “maravilha de obra”, motivo pelo qual teve que contratar trabalhador de outro lugar para fazer o invento, ao soldo de R$ 600,00 (seiscentos reais).

Segundo alguns assentados, o prefeito Arnold Borges foi até o assentamento dia 28 de agosto passado receber a “obra”, afirmando na ocasião que só falta “acimentar” o chão da escola, como forma de evitar que os estudantes sejam prejudicados pela poeira, para a escola ficar dentro dos “padrões”.

Realmente numa coisa o prefeito não está mentindo: esse é o padrão das escolas da zona rural maranhense, o qual o seu governo segue à risca!

Na avaliação certeira do assentado José Wilson, 51 anos de idade, que não tem nenhum filho na escola, mas sempre lutou pela educação, a junção de “má administração e negligência dá nisso”.

De acordo com o Censo Escolar 2010, cujas informações estão disponíveis no sítio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a unidade escolar em referência está em atividade e sua regulamentação/credenciamento no conselho ou órgão municipal, estadual ou federal de educação está em tramitação.

Estão matriculados na escola: 4 crianças na pré-escola, 33 no ensino fundamental e 19 estudantes no Programa Educação de Jovens e Adultos.

Para o exercício 2011, são destinados recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para garantir o direito a alimentação de 59 estudantes, sendo que desse total existem 19 cadastrados para o transporte escolar, todos do programa EJA.

Enquanto a “escola” não fica pronta, os alunos estudam na capela do assentamento (foto 3), em regime multisseriado, apelidado de “ensino mutilado”, dividindo o mesmo espaço alunos da 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 7ª séries, separados por uma linha imaginária, quadros em cada lado, onde dois professores contratados se revezam, enquanto um terceiro aguarda a sua vez.

Não sei como se aprende desse jeito, penso que isso enlouquece as crianças, tirando delas o ânimo de aprender”, avalia dona Francisca, baluarte da luta e da resistência do assentamento.

Um comentário:

José Atailson, Ribamar lisboa, Josinaldo,Raimunda Figueiredo disse...

Estou convencido de que é preciso usar mais este espaço para mostrar a realidade como ela é no maranhão, já que temos pouco ou nenhum espaço em outros meio de comunicação de grande alcance. Não é por acaso que os indicadores sociais do maranhão são os penultimos ou os ultimos em relação aos outros Estados da federação. Tuda essa miséria, pobresa é bem pensada por essa corsa de políticos safados maranhenses. Acirremos a luta e a militância para mudar essa realidade desumana. A nossa resistência initerrupta é sinal de mudança no cenário estadual.Denunciar e fortalecer os movimentos e as organizações sociais desintabilizará esses dominadores.Essa é a nossa força. Núcleo da Rede de Defesa da Cidadania de Pte. Vargas