Já se afirmou, em muitos momentos, que as estruturas do Estado brasileiro foram feitas para não funcionar. Caso funcionem, não podem incomodar. Se por ventura incomodarem, busca-se uma forma, dentro da lei, nas suas brechas ou arbitrariamente, para que volte ao seu estado inicial. Ou seja, ficar inerte, não se movimentar.
No entanto, por conta do “incômodo” grito das ruas, de vez em quando se alteram e se promovem mudanças legislativas, mas, uma vez acalmado o alarido, tudo volta ao seu leito natural: ordem para a maioria, progresso para alguns.
Isso não é assim à toa!
Reflete a nossa história, de que aqui o Estado foi anterior à sociedade civil, criou-lhe e detém sobre esta supremacia de longa data.
Forjou ainda o tipo de povo adequado aos seus interesses. Ou melhor, aos interesses da elite dominante: cordial, pacífico, obediente, ordeiro, pouco fala, quase não reclama de nada.
Aqui vicejou, a duras penas, e ainda está muito arraigada, a infeliz idéia de que a cidadania é uma concessão do Estado, uma outorga das autoridades e das elites dominantes. Basta observar a realidade cotidiana, vivenciada em cada canto desse país, para mostrar a força que essa idéia tem nas nossas relações, a dúvida quase inexistente de que autoridade vale mais do que o cidadão.
Expressão, aliás, atualizada e reforçada pela boca de um ministro do STF, ao afirmar que autoridade não deve nenhuma explicação ao cidadão da esquina.
Acontece que as leis, feitas a partir da enorme pressão exercida pelo povo, sem a qual nada se move nesta terra, desconhecem essa triste realidade, do poder de manipulação e intimidação das elites, em conluio com autoridades públicas, dos inúmeros artifícios que usam para que nada dê certo, nada se altere.
Tudo com o objetivo de defender os seus interesses e, ainda por cima, gozar e desfrutar de enormes privilégios, dentre eles, a impunidade.
Não são sem sentido as suas interpretações e ações, pois, no Brasil, as leis são feitas não só para garantir direitos, mas também para conter abusos, impedir que interesses privados, quase sempre escusos, sobreponham-se aos interesses públicos.
Coincidência ou não, invariavelmente, as leis são contrárias aos interesses de tais elites, ao menos as limitam no seu desejo de tudo possuir.
E quando o jogo não está indo conforme o planejado, quando se exige a aplicação da lei doa a quem doer, custe o que custar?
Aí entram em cena outras formas de convencimento, como a malícia nas interpretações judiciais das leis, a burla, o poder de pressão, outro nome para corrupção, e por fim, ameaça e intimidação.
Assim, com base no triste enredo já escrito pelas elites brasileiras, de que pode existir democracia sem povo, de que povo foi feito para obedecer, ficar calado e quieto, pedir e agradecer, monta-se uma farsa democrática com longa duração.
Até quando o povo quiser e aceitar ser platéia!
Até quando o povo quiser e aceitar ser platéia!
2 comentários:
Eu acho que daqui algum tempo o judiciário brasileiro será pior do que a casa-da-mãe Joana.
Absurdo, autoridade achar que deve explicação ao cidadão, mas estamos no brasil, onde tudo é possivel.
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